domingo, 22 de fevereiro de 2015

Envelhecer



Se há mais ou menos uma década, apanhava grandes enfartamentos de poesia, hoje, um poema, é uma reconfortante bolacha de milho e meio copo de leite, antes de adormecer.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

-Adeus

sei que gostas de dormir com meias
de paredes meias de paredes espessas
eminência por mais que me peças anseias
pelas meias palavras que me despeças

adeus
lembram-me os lábios que me disseram
adeus
lembram-me os olhos que me fecharam
que se perderam no meu túmulo
de risos indignados do cúmulo
de perder
o direito de dizer
-Adeus

para sempre adeus

Nuno Miranda Torres

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Memórias que fazem povos



Efraim odeia Alemães. Os alemães odiaram os avós de Efraim. Ele odeia alemães, porque estes odiaram o seu avô e porque o mataram de forma brutal. São as memórias das pessoas que fazem os povos. Hoje, Efraim, agarra-se à memória, desliza na história para poder odiar Alemães, sem que a consciência o refreie. Hoje, chamam-lhe porco. Dizem que deve. Chamam-lhe porco, porque gastou. Ainda não matou ninguém. Não será recordado por isso. As memórias das pessoas, nem sempre fazem povos. Nem sempre fazem novos…

E.M.Valmonte

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Jogo de Partenon

Se eu conseguir contigo
metade do que consigo sozinho
impeles-me o dobro de estar
infligido contra ti

confiar mais de mim em ti
revela-me o que sou de mim
descobre-me o que vem de ti

juntos seremos menos
que despenhados vencedores
espezinhados vencidos brotados
da lama espapaçada aos louvores

de juntos sermos mais uma porção
que solidão dos predadores confiada
à desilusão dos perdedores alma suada
na tortura ao diletante na confissão

denuncio-te engrandecendo
o que não passa de pequeno
vem do silêncio a grandeza magra
que a culpa sóbria vai descendo

se eu e tu
conseguirmos ser um só
mais que os demais
que nada foram

E.M. Valmonte

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Medo


Não tenhas medo que o medo
existe para teres medo do medo
que ele dá

foi ele que criou o medo do escuro
das alturas do medo em que a coragem
falece de excesso de medo que ele dá

tremer de medo de ouvir o ranger
dos dentes de ter medo e ainda cedo
tremer do medo de ser já

ele que me dá medo terá ele medo?
do meu medo de ter medo
se eu tiver medo serei mais um
assustado com o medo que ele dá
com o medo de ser já

mais medo
mais cedo
que me dê o temor
de medo sem a dor
de não ter medo do que for
de não ter medo que amanhã
seja um dia mais pequeno
que o medo de ser hoje
na grandeza de um aceno

despede-te do medo
do mundo de ti
não voltes revoltes
que ter medo
deixo na caixa do segredo
que ter medo
faz parte do enredo
de ser homem

E.M. Valmonte

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Lamber uma parte do tempo



Fosse o doce de te lamber o corpo o mesmo
de lamber o tempo que esse corpo passou
doce que se fosse tempo caramelo de corpo
nunca morto sempre doce que não me destroce
o tempo que demorei a lambê-lo ou a memória
que não condene a mim a ti e a história de pena e estilete
crava na pele as rugas o áspero que se repete
não fosse o tempo um monte de repetes
caídos em mim em ti e na história
fosse o doce de te lamber o corpo o mesmo
de te dar o tempo
que preciso
de te amar

E.M. Valmonte