Irrito-me a atravessar
passadeiras, ao ponto de achar que seria justo que os automobilistas
arrancassem a chiar os pneus e me partissem as pernas.
Gosto de atravessá-la em passo
acelerado, como que a compensar os condutores pelo incómodo de travar, desembraiar,
voltar a embraiar e acelerar, depois de eu passar. Gosto ainda de fazer um
gesto de agradecimento a meio da passadeira, como se aquela corrida
desengonçada não fosse suficiente e assaz terna ao coração do automobilista.
Acho até que, na epopeia citadina das passadeiras, não passo de um execrável
verme graxista do senhor automobilista, ao estilo parolo do eterno empregado do
mês, na arte de lamber a senhora-dona-peida do patrão.
Talvez eu merecesse mesmo ficar
com uma grelha de um Range Rover incrustada no lombo, sempre que optasse por
esta prática tão cheia de líquido visceral e langonha.