Na última
sexta-feira, morreu o último homem sem ídolos. Um homem cauteloso, que sabia
receber novidades e sabia que os ídolos eram deuses. Eram deuses ou
simplesmente homens desconhecidos, mas que ele gostava de idolatrar. Lembrava-se
perfeitamente onde estava, quando soube da morte de Kurt Cobain. Lembrava-se
perfeitamente onde estava, quando soube da morte de Ayrton Senna. Antigamente
dava-se mais valor à morte. Também ela aparecia de surpresa e demorava a correr
mundo, a notícia que a morte acabara de matar.
Onde estava quando morreu João
Paulo II, ou quando morreu Lou Reed? Disso já não se lembrava, tal como não se
lembrava das mamas da Celina, a mulher com quem perdeu a virgindade. O homem
sem ídolos, deixou de venerar, os homens deixaram de ser ídolos e a morte, essa
prostituta hedonista, deixou de dar aquele nevoeiro inebriante ao desejo dos
homens.
Ele morreu, como morrem os cães.
Foi enterrado como os tesouros e nunca foi idolatrado, como também não são os
homens de hoje.
E.M.Valmont
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