Depois de o abrir, vi que a capa
dura estava ligeiramente amarrotada. Tinha levado uma agrura da vida. A multidão gritava -
«Devolve, devolve, devolve» e eu, precipitadamente, pensei nisso. Se tem
defeito, é para devolver. E não é isso que fazemos todos, a tudo e a todos que têm defeito?
Mas este livro, tal como a mulher
que amo, é de apenas um exemplar e difícil de conquistar. Li as duas primeiras
páginas, como se tivesse a dar o primeiro beijo, no campo de ténis, atrás da escola primária do avião. E não me poderei apaixonar em apenas duas páginas e um beijo?
A multidão continuava em
uníssono- «Devolve, não presta, devolve, devolve».
Levei o livro para casa, ainda
que, com aquele sentimento que eu mereceria melhor. Mas também não mereceria
melhor dono, este pobre enjeitado? Estaremos bem um para o outro na desilusão,
mas também na devoção e no amor. Embora com essa capa dura desfigurada, tenho a certeza que não
serás menos Herberto Helder. E também não darás menos prazer. E porque te salvei da
fogueira, será que me podes dar um segundo beijo?
E.M. Valmonte
Essa capa dura, desfigurada, torna-o seu. A partir de agora passará a ler o livro, em vez de ser um livro.
ResponderEliminar:)
É isso. Provavelmente um herberto Hélder com a capa num enxovalho, mais ninguém tem. É inevitável dar mais valor ao interior do livro. Se isto pega moda, passam a vender os livros com um martelinho incorporado.
ResponderEliminargostei muito do teu blog! Parabéns!
ResponderEliminarVou passar cá mais vezes:)
http://fromportugaltonyc.blogspot.com
Obrigado. Passa, que haverá sempre mais um lugar à mesa.
EliminarUma capa levemente amarrotada que deu-se num texto prazerosíssimo!
ResponderEliminarUm beijo e excelente leitura tal qual a que tenho aqui sempre que venho.