Mesmo ao domingo, Theodor passeava
pelas melhores avenidas da cidade, de fato completo, gravata de seda do Panamá
e sapatos Testoni. Também o domingo, o ex-dia da família, servia para passar
pelo escritório para assinar uns papéis. Apenas mais uma aborrecida pilha de
papéis, marcada indelevelmente pela vontade de reduzir operacionais, em prol da
recuperação de mais um infalível banco.
Perto da sumptuosa entrada, um homem
cego, espojado no chão, apenas com uma das mãos levantadas, pedindo os restos das
migalhas das moedas, que rompem os bolsos de um qualquer fato Abercrombie.
Theodor chocalhou as moedas,
desfilou-as na palma da mão, contando mentalmente o preço do prazer da
humilhação. Atirou-as, como se leccionasse gratuitamente a essência do
capitalismo.
-Quem quer dinheiro, que o procure…mesmo
que não o veja, estando ou não estando, espalhado no empedrado - disse Theodor,
gratificando o seu aluno ocasional.
O vagabundo, homem despedido do
sistema bancário, cegueira provinda de uma catarata degenerativa, tresandava a
mijo por falta de coragem, da boca, um hálito fétido a capitalismo mal curado.
-Esse seu capitalismo é uma bênção,
senhor doutor – retorquindo em sinal de oração – pena que atraia tantos
bandidos malfeitores – concluiu, como se conclui a insignificância.
E.M. Valmonte
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