Hoje, o meu filho explicou-me a
existência do universo. Explicou-me, como se explica alguma coisa complicada,
ou seja, de forma simples. É verdade que as primeiras horas de catequese lhe
provocaram a sensação de explicar tudo e a origem de tudo de uma forma, demasiado simplista. É verdade que os pais complicam sempre o que é
simples, mas isto do universo é, para todo o universo, uma dúvida que realmente
subsiste.
Que horas são?
São 17.30 – respondi
Onde estão as 17.30 horas?
No meu relógio
Onde está o teu relógio?
No meu pulso
Onde está o teu pulso?
No meu braço
Onde está o teu braço?
No meu corpo
Onde está o teu corpo?
Sei que o leitor deve estar enfadado, como aliás todos os
pais nestas situações o estão, mas eu gosto de levar estas metralhadas de
perguntas, geralmente até ao meu suicídio. Costumo cortar os pulsos, ou em dias
solarengos, deixar-me cair do quinto andar.
O meu corpo está em casa – respondo abrindo a janela
Onde está a tua casa?
Está em Lisboa, que está em Portugal e que por sua vez está
na Europa – resumi, não percebendo que resumindo, acelerava vertiginosamente a
minha morte.
E onde está a Europa? – perguntou pacientemente, como se
estivesse ainda a fazer a sua primeira pergunta
O sangue verte dos pulsos. Chovia copiosamente e certamente
não esteve um bom dia para um suicídio por estatelamento em calçada portuguesa.
Acabei por perceber que Deus está imediatamente antes do
Universo e que em vez de prometer educar os filhos sob os desígnios da fé cristã, deveria ter prometido educá-los sobre os desígnios da fé cristã. Acho que ninguém notaria e hoje teria uma vida mais descansada, com muito menos suicídios.
E.M Valmonte
Gosto do teu filho! (:
ResponderEliminarPodes reencaminhá-lo para mim, sempre te livras do suicídio diário.
Caríssima Carla,
EliminarReencaminhá-lo não vai ser possível. É que lá em casa alimentamo-nos dele e em privação prolongada começamos a desfalecer, acabando mesmo por morrer.
Muito Obrigado.