Eles namoravam
sempre por carta, que a escrever ama-se mais profundo. Era a distância que não permitia um namoro de contacto. Era o
respeito a um deus que não permitia um namoro de facto.
Ele fugiu da
morte, toda a vida. Ela fugiu da sorte, como quem foge de morrer pelas mãos de
um carrasco, que lhe matava sempre o amor.
Hoje teve que
fugir da guerra. Não teve tempo de lhe dizer que fugiu. Que embarcou sem saber
se existia mar para além da imaginação e da criação. Não crescem as crianças na guerra, não
crescem os amores na terra.
Fugir… fugir
para não…morrer… fugir…viver… sabe-se lá o que existe para lá desta fronteira…
desta língua de terra entre viver e morrer.
Para onde te escrevo
agora, amor?
Deixa-te estar a
meu lado e não mais te vás embora.
Uma carta sem
destino numa folha a mais de outono, que não quer cair da árvore. Um amor que
parece vadio, numa noite dormida ao relento. Estas palavras esborratadas neste papel pardo, parecem um fardo,
de quem habituado a amar à distância, parece imberbe neste amor sem terra
própria.
Escrevo mil
cartas, e envio-te para todos os destinos que conheço.
Não escrevo para
a morte que a morte não te colheu. Não te escolheu que a morte não tem destino.
Não te esqueças
de me responder. São apenas mil destinos e isso são lugares parcos deste nosso
amor, distante.
Nuno Miranda de Torres
Sem comentários:
Enviar um comentário