Pois se o senhor não me levou à
praia, ao surf e às raparigas de cabelo de ouro e de fios de missangas ao
pescoço, como queria que eu casasse com uma mulher de bem?
Levou-me para as
terras altas e apresentou-me a outras raparigas, mesmo sabendo que aquelas não usavam
fios de missangas e que o cabelo era descolorado. Elas não foram o que a minha mãe
sempre quis para mim, mas não nos esqueçamos que foi com elas que aprendi a
foder. E talvez tivesse aprendido mais depressa essa arte, do que propriamente
a ler. A ler, aprendi com a dona Natália, que não queria saber mais de homens,
depois de ter perdido o marido na guerra.
Só mais tarde percebi que o amor
não vem do champagne, nem desses bordéis manhosos onde me trataram sempre por
senhor doutor. Quando era pequeno, o chamamento de senhor doutor vinha por
graça. Mais tarde, porque realmente extraí muita bala dos ombros dos chulos e
das rótulas dos seguranças, tratavam-me respeitosamente e profissionalmente por senhor doutor. Para
um chulo, dispara-se para a cabeça e para um segurança, para os joelhos. Uns
são para matar, os outros apenas para vergar.
Amei algumas putas.
Ameia-as,
como se amam as mulheres puras, ou as outras que não sendo puras, também não
são só putas, ou ainda as outras que não são mais nada, além de mulheres. Elas
também me chegaram a amar. Uma de cada vez, à vez e a meias, no intervalo entre
os clientes. Trabalhei no talho do senhor Francisco durante duas semanas.
Precisava de ganhar dinheiro, não muito, mas o suficiente para ganhar afecto. Gastei
o dinheiro em fios de missangas. Ofereci-os às mulheres que amei e fiz delas
aquelas mulheres de bem, que a minha mãe sempre quis para mim.
E.M.Valmonte
Maravilha de micro conto!
ResponderEliminar