Descalço-me, tiro a camisa suada
e deito-me no sofá. Passo alguns momentos em puro deleite. Não existe barulho,
o sol entra envergonhado por entre os buracos dos estores e a sala está fresca.
Fico apenas a aproveitar a solidão, como ela deve ser aproveitada, sozinho.
Os olhos semicerram, mas não
quero dormir. Inspiro fundo e consigo absorver os cheiros dos livros esquecidos
na estante. Parece que perco a solidão, quando me vêm à cabeça as personagens
daqueles livros. O cheiro a sangue, vindo dos policiais, aguça-me a vontade de
matar sem razão; aquele matar por diversão, sem despojo nem ódio.
Fecho os olhos, tentando que o corpo
se esqueça desta vontade, mas agora que o instinto começou a correr pelo
sangue, será muito difícil voltar a adormecê-lo, sem matar.
A campainha toca. É publicidade.
Que bom.
E.M. Valmonte
Um texto muito interessante...e o alívio do toque da campainha...
ResponderEliminarAbraço
Graça
gosto de pensar que o "que bom" se deve ao facto de ter matado quem tocou à campainha.
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