o livro foi-se embora,
vincada
a página que também foi vida
suja de cinza, depois de lambida
suja de cinza, o fumo esvaiu-se
ficando o pó, ou a cinza de quem morreu
o livro foi-se embora, descolada
a lombada que foi maltratada
dos tombos e da má sorte, desgastada
a capa e o título, da página desnorteada
o livro foi-se embora, não na alma
muito menos na bagagem de vivalma
que hoje os livros não viajam
o livro foi-se embora, não na mão
muito menos na própria sofreguidão
que hoje os livros não sujam
ficou, esquecido na madrugada
à azinheira de canivete cravada
da sua paixão já desfolhada
E.M.Valmonte
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