Era meia-noite e metade de uma noite
era demais. Deitado na cama, tapava-me apenas com o cobertor esburacado pelas
ilusões. Eu teria também a alma esburacada, não pela desilusão, mas pela presciência
de que a metade da noite não chegaria a fazer um dia.
Estava ali, porque me quiseram
calar. Estava ali porque me quiseram cegar. Tinha apenas o direito de cheirar a minha urina. E o desejo de um homem, pode fazer a urina cheirar a maresia. Diziam os velhos que era impossível sair dali. E o desejo de um homem... pode o que a alma quiser.
Um dia haveria de sair, para poder ser eu, sempre que queira ser outro diferente.
Um dia haveria de sair, para poder ser eu, sempre que queira ser outro diferente.
Na parede existia uma janela
pequena, onde me cabia a consciência e mais um bocado do corpo. As grades não
me deixavam fugir. Agrilhoavam-me as crenças sempre que tentava sair.
Apenas a liberdade e um pouco de
mim saiam amiúde para além dos muros. Ajudou-me um guarda a voar e a viver.
Alargou-me as asas. Ensinou-me a batê-las e abriu-me a porta. A mim e a mais nove.
Dizem os livres que voar em bando é mais fácil. Pena que o guarda de tanto ensinar,
se esquecera de apreender.
Fugir, embora pareça, é bastante
diferente de ser liberdade.
Que se batam as asas, que
enquanto batem, parecem sempre que são livres.
E.M.Valmont
"Na parede existia uma janela pequena, onde me cabia a consciência e mais um bocado do corpo. As grades não me deixavam fugir. Agrilhoavam-me as crenças sempre que tentava sair."
ResponderEliminar... Adorei ler. Obrigada.
Eu é que agradeço. Volta sempre que queiras. Serás sempre bem-vinda.
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