O rapaz que se enrolava como um
bicho-de-conta era a atração do circo, sempre que faltava o trapezista sem
pernas ou a gorda que vomitava ovos cozidos. O rapaz aprendeu a enrolar-se como
um bicho-de-conta, porque passou muito tempo a observá-los. Fazia um círculo na
areia e colocava os bichos-de-conta, um a um, como se se tratasse de um coliseu
e ele o dono daqueles gladiadores. Erguia o punho no ar, decidindo sobre a vida
e a morte do bicho-de-conta derrotado. Decidiu sempre sobre a vida. Recolhia o
bicho-de-conta enrolado, encaminhava-o para uma caixa de fósforos diferente,
como que castigando a falta de coragem e a derrota. Aprendera estes castigos
com os seus pais, que o castigavam no quarto isolado, sempre que ele não
conseguira as moedas necessárias para o pão e o leite do dia. Também ele se
enrolava nesses dias de castigo.
E.M. Valmonte
Devia estar frio, na vida desse rapaz. Tanto frio que ele aprendeu a enrolar-se.
ResponderEliminarBoa noite.
Ou frio ou medo. Ninguém sabe.
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