Era uma mulher
pequena. Tornou-se pequena, pelo amarrotar da vida. Tornou-se pequena, também
na dignidade. Nunca teve a culpa. Foram sempre os outros que a pontapearam para
fora da vida. Ela também sabe que tentou pouco, mas mesmo que se tivesse
esforçado, nunca teria sido mais do que a puta que foi. Talvez uma puta mais
digna, mas sempre uma puta. E sempre preferiu ser uma boa puta, do que uma
sonsa de merda sem comichão na rata. Ainda assim, a vida sempre pareceu que se
divertiu com ela. Chamava-se Fé. Maria da Fé, mas todos a conheciam apenas por
Fé. Também ela tinha uma áurea resplandecente, de quem aparece aos outros,
quando eles precisam de acreditar nalguma coisa em grupo. Fé deixou de
acreditar… ainda cedo. Os outros deixaram de acreditar nela… quando o seu corpo cedeu.
A Fé foi-se desvanecendo. Morreu... quando todos deixaram de acreditar.
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