quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Era uma mulher pequena. Tornou-se pequena, pelo amarrotar da vida. Tornou-se pequena, também na dignidade. Nunca teve a culpa. Foram sempre os outros que a pontapearam para fora da vida. Ela também sabe que tentou pouco, mas mesmo que se tivesse esforçado, nunca teria sido mais do que a puta que foi. Talvez uma puta mais digna, mas sempre uma puta. E sempre preferiu ser uma boa puta, do que uma sonsa de merda sem comichão na rata. Ainda assim, a vida sempre pareceu que se divertiu com ela. Chamava-se Fé. Maria da Fé, mas todos a conheciam apenas por Fé. Também ela tinha uma áurea resplandecente, de quem aparece aos outros, quando eles precisam de acreditar nalguma coisa em grupo. Fé deixou de acreditar… ainda cedo. Os outros deixaram de acreditar nela… quando o seu corpo cedeu. A Fé foi-se desvanecendo. Morreu... quando todos deixaram de acreditar.

E.M. Valmonte



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