A
luta pela sobrevivência, talvez seja a luta mais sem escrúpulos que se pode
travar. São constantes as apunhaladas nas costas sem aviso prévio. São ataques de
cobardia que os homens não estão habituados a enfrentar.
Agora
imagine-se um pai a lutar pela sobrevivência de um filho. Esta luta, trincheira
desgraçada que nos tira os sonhos, que faz chorar homens vergados pelo medo de
não ser capaz.
Como
é que se ama um filho atrás de uma incubadora? Não se toca, não se abraça, não
se dá de mamar, não se põe a arrotar… não se sabe se vai viver, apetece-nos
morrer. Ama-se chorando às escondidas.
Máquina do tempo desgraçada que
nos projecta o futuro; o presente é um cone de luz intensa sem barreiras nem
degraus.
A
nave espacial está pronta para descolar. Liguem os tubos, controlem o oxigénio,
as pulsações e as saturações. Coloquem a morfina e espetem um tubo no tórax
para drenar esse maldito ar que foi para a pleura.
A
nave arrancou.
Sabemos
que viajamos nela, agarrados pelos polegares.
Nem
sei a força com que me devo agarrar. Se ao menos soubesse o tempo da viagem. Tenho
medo de me agarrar com muita força e não aguentar o tempo total da viagem. Tenho medo de me agarrar ao
de leve e ser cuspido.
Tenho medo.
Tenho mesmo muito medo.
Tenho medo.
Tenho mesmo muito medo.
Nuno Miranda de Torres
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