segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Diário de um pai à rasca - dia 7 (24.08.2015)

Aquela mulher junta da incubadora



Passo cada vez menos tempo naquele hospital, não porque esteja a desistir, mas porque me vão faltando as forças de resistir. Nunca desistirei, mas terei o direito de baixar momentaneamente os braços. Sinto e sei que não tenho esse direito, mas a verdade é que eles não se erguem de maneira nenhuma. Nestes dias mais duros, resta-me a observação do que me rodeia.

Hoje, de longe, mais não fiz que admirar a coragem de uma mãe. Em pé, com dores, não largou a incubadora do filho. Falou com os médicos, opinou, nunca desistiu, chorou, chorou muito como os que têm a verdadeira dor, mas reergueu-se cada vez mais forte. Deu força aos humanos, pediu força aos sobre-humanos sem nunca largar aquele que mais precisou de si.
Invejei a força daquela mulher. Mulher de missões que fará o que estiver ao seu alcance, mesmo que nestes casos, o alcance não seja maior que o comprimento dos braços totalmente estendidos para o céu.

Levantei-me a custo e aproximei-me dela. Queria de certa forma estar perto desse alguém que não desiste. Os olhos tendem a trair-me, e a sensação de nebulosidade dificulta-me a percepção de tudo o que não é sonho ou ilusão.
Usei as mãos para lhe tactear a cara. Senti-lhe o ofegar da respiração e dela vinha uma confiança fortificada que só vem de uma mãe.



Mais perto dela percebi, que aquela grande mulher era a mãe do meu filho. E nesse instante relembrei-me conscientemente que a venero e o quanto gosto dela.

Nuno Miranda de Torres

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