Passo cada vez menos tempo naquele hospital, não porque
esteja a desistir, mas porque me vão faltando as forças de resistir. Nunca
desistirei, mas terei o direito de baixar momentaneamente os braços. Sinto e
sei que não tenho esse direito, mas a verdade é que eles não se erguem de
maneira nenhuma. Nestes dias mais duros, resta-me a observação do que me
rodeia.
Hoje, de longe,
mais não fiz que admirar a coragem de uma mãe. Em pé, com dores, não largou a
incubadora do filho. Falou com os médicos, opinou, nunca desistiu, chorou,
chorou muito como os que têm a verdadeira dor, mas reergueu-se cada vez mais
forte. Deu força aos humanos, pediu força aos sobre-humanos sem nunca largar
aquele que mais precisou de si.
Invejei a força daquela mulher. Mulher de missões que fará o
que estiver ao seu alcance, mesmo que nestes casos, o alcance não seja maior
que o comprimento dos braços totalmente estendidos para o céu.
Levantei-me a custo e aproximei-me dela. Queria de certa
forma estar perto desse alguém que não desiste. Os olhos tendem a trair-me, e a
sensação de nebulosidade dificulta-me a percepção de tudo o que não é sonho ou
ilusão.
Usei as mãos para lhe tactear a cara. Senti-lhe o ofegar
da respiração e dela vinha uma confiança fortificada que só vem de uma mãe.
Mais perto dela percebi, que aquela grande mulher era a
mãe do meu filho. E nesse instante relembrei-me conscientemente que a venero e
o quanto gosto dela.
Nuno Miranda de Torres
Sem comentários:
Enviar um comentário