Nova espécie
Trago para casa
aquele cheiro a hospital. Não me sai das mãos, das narinas e de dentro de mim. Trago
os apitos sonoros e os nomes das enfermeiras. Trago o esgar de preocupação das
médicas e também a sensação de que se estão a tornar impotentes. Só não trago,
o que devia trazer. Trago uma enorme sensação de culpa de me vir embora e essa
custa a sair. Culpo-me até de respirar livremente, coisa que o meu filho não
consegue fazer.
Sinto-me mau pai pelo facto de vir para casa. Sinto-me mau pai
de ver televisão. Sinto-me mau pai, porque de vez em quando consigo sorrir.
Sinto-me mau pai…por ainda não ser realmente um pai de verdade.
Todos me dizem que é um processo lento, mas
para mim já passou mais tempo do que eu acharia que conseguia resistir.
Sei mudar a
fralda, sei jogar à bola, sei cuidar de feridas. Apenas não sei cuidar de um
maldito pneumotórax que teima em não cicatrizar.
Os ombros
encurvam, o pescoço baixa ligeiramente, os olhos afundam e os braços caiem
inertes.
Talvez seja
mesmo uma nova espécie de homem que aqui se inicia.
Nuno Miranda de Torres
Esperança. Da muita. É aquilo que agora não pode faltar.
ResponderEliminarE eu tenho. Sei que no final, tudo irá estar bem.
EliminarObrigado pelo apoio.