quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A saudade escrita no pó


O estado em que eu encontrei isto!

Completamente abandonado, de estores caídos e ervas crescidas a interromper a passagem. A porta estava fechada há muito tempo, mas descobri que nunca foi trancada, estando estes anos todos apenas encostada, talvez à espera que alguém aqui entrasse.

À medida que eu deambulava pelas diversas divisões, o pó acompanhava-me como que se de um bom anfitrião se tratasse. Soprei aqui e ali nalgumas molduras e o passado voltou a desenhar-me alguns sorrisos na boca e algumas cicatrizes na alma. O relógio de pêndulo estava parado. Não esperava eu outra coisa de um relógio de pêndulo, dono do tempo e da sua própria vontade. Mesmo que lhe dê corda ao contrário, a soberba dele nunca me deixará andar com o tempo para trás, e por isso não lhe toquei nem ao de leve, não fosse o cuco avisar-me que a vida passou por nós.

Sempre que não trancamos a porta à chave, mais tarde ou mais cedo voltamos onde não era suposto voltarmos.
Afinal de contas não fui eu que voltei, foste tu.