segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Rastejar no restolho



acontece sempre de manhã…
ainda nem o orvalho acordou
já a avó perfuma os sentidos
trinados pelos acordes garridos

…de um galo que se quis perneta

uma estria de trigo
ao canto musculado da boca
a bússola desnorteada de um campo
de cotovelos surrados no tampo

…da velha mesa serrada no pé

o carvão do lápis suja-me a memória
o papel pardo, debota vivências
embrulha-se nele o amor de um homem
é apenas um coração que bate
num corpo
podia ser o manto
no dorso de um cão vadio

…a quem lhe tinham partido uma perna

do outro lado da inocência
eis que se vislumbra o campanário
aguardam no confessionário
os militantes segredos imaginários

…a um padre que ficara coxo na guerra

um último olhar agendado
antes do carinhoso copo de leite
calma a noite se vai deitando
uma brisa de vez em quando


…balanceia uma flor sem caule

para onde vai a sombra
do empedrado?
aquela que se vê do terraço
manchas campónias suam da terra
sujam de pó as mortes da única guerra

…onde não se entoam os canhões.



efrem miranda

4 comentários:

  1. Anónimo17.9.13

    se não é poesia, é o quê?

    saudações.

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  2. ainda bem que gostaste.
    fico grato pela simpatia

    saudações

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  3. Gosto desta tua mistura de episódios.

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    1. S*, muito te agradeço as tuas palavras, assim como o apoio de sempre.

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