domingo, 18 de maio de 2014

Assassinos natos



Descalço-me, tiro a camisa suada e deito-me no sofá. Passo alguns momentos em puro deleite. Não existe barulho, o sol entra envergonhado por entre os buracos dos estores e a sala está fresca. Fico apenas a aproveitar a solidão, como ela deve ser aproveitada, sozinho.
Os olhos semicerram, mas não quero dormir. Inspiro fundo e consigo absorver os cheiros dos livros esquecidos na estante. Parece que perco a solidão, quando me vêm à cabeça as personagens daqueles livros. O cheiro a sangue, vindo dos policiais, aguça-me a vontade de matar sem razão; aquele matar por diversão, sem despojo nem ódio.
Fecho os olhos, tentando que o corpo se esqueça desta vontade, mas agora que o instinto começou a correr pelo sangue, será muito difícil voltar a adormecê-lo, sem matar.

A campainha toca. É publicidade.






Que bom.


E.M. Valmonte

2 comentários:

  1. Um texto muito interessante...e o alívio do toque da campainha...
    Abraço
    Graça

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  2. Anónimo22.5.14

    gosto de pensar que o "que bom" se deve ao facto de ter matado quem tocou à campainha.

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