sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Anzol de Prata

De tanto chorar para dentro, submergiu. Porque o desespero de um homem, mesmo que rijo de aparências reais, não consegue estancar a hemorragia de uma ferida aberta à estucada.
Submerso dele mesmo, debicava timidamente os anzóis que refletiam rasgos de prata, como que comunicando à superfície que existe uma quase vida, enamorada pela quase morte iminente.

Num espasmo de afoitamento, sentiu um rasgo frio no lábio superior e uma força que o puxava para o outro lado do desejo. Remexia os braços e as pernas, baloiçava o corpo, salvando-se morrendo devagar, cadenciando os movimentos ao natural baixar dos braços. Ser um homem submerso, dava-lhe o conhecimento que, quando mais lutasse, mais morreria. A luta acabara por acabar. No fim do esbracejar, ouviu-se um silvo, que afinal era para ser um grito, mas não houvera forças para tal excentricidade.

E.M. Valmonte

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