quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Diário de um pai à rasca - dia 16 (02.09.2015)

O Pisco

Quando cheguei ao quarto do hospital, estavas vestido a rigor, quem sabe para receber de gala este teu pai que tanto te gosta de ver. Na janela do quarto, do lado de fora, um pisco embalava-te com uma generosa melodia.
Por serem os dois tão pequenos, admiravam-se, rodando a cabeça, cada vez que um se mexia. Pareceu-me uma dança de pequenos seres dependentes, que se pendiam um ao outro. Um voava, o outro sonhava. O pisco assustava-se com os teus movimentos, mas voltava sempre chilreando as últimas novas, próprias de quem voa e vê tudo lá de cima. Tu acalmavas sempre que ele chegava ao teu parapeito, e ensinava-lo a crescer e a cuidar da alma dos outros.
Habituado a histórias de cavaleiros e dragões, hoje começámos a escrever as primeiras letras de uma história de amizade entre um pássaro e um sonhador.


 Talvez por serem os dois tão pequenos, sonharam os dois tão alto. 

Nuno Miranda de Torres

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