Do meu quarto, vejo uma árvore com
folhas. Em dias de reflexão, sento-me no cadeirão de mogno, fixo-me numa folha
e tudo o que faço é esperar que ela caia. Pode demorar dias, como costumam
demorar as minhas indecisões. Não tenham pena de mim. Nestes momentos não há
aflições, repercussões ou abnegações. Não me nego e não elejo ninguém. Espero
apenas que a folha caia. Espero apenas que ela não se magoe, de tanto eu achar
que ela não serve para mais do que varrê-la para um caixote. Como se fosse ela
a higienização deste crepúsculo que eu absorvo, quando olho para dentro da vida
ou para fora de mim.
Tenho assistido ao desfalecimento
gradual da minha vida e também ao das folhas de uma antiga nespereira, que
invejo do meu cadeirão de mogno, sempre que preciso de escolher um caminho. As garrafas
de vinho absorvem as más escolhas e tornam todos caminhos mais belos e as
folhas de nespereira mais perenes.
nuno mc
Sem comentários:
Enviar um comentário