Os pés deixam de ter o chão
da fé que deixa de ter pé
afogam-se ambos na imensidão de
estrada
que leva pessoas para lá de nada
dor, muita dor
quem me soletre a dor
da palavra desistir
que ma soletre mais devagar
que a coragem de querer parar
promessas de pequenos mundos
segredam forças aos fundos
fundos de homens curvados
aos deuses desinteressados
dor, e mais dor
lambem-se as feridas
enxugam-se as derrotas
das lágrimas, a fé que progrida
que não seguir, é fazer batota
quando dói, ri
que rir, tem mais sabor
sabe mais doce que a dor
de não saber a nada
caminhar sobre o sangue
de rasto indelével
vomitam os corpos, a fé prossegue
no vento, na chuva e no indecifrável
perguntar afronta a fé
força que o caminho faz-se a pé
de pena, de pé, a fé na arena
uma chegada em sangue que serena
salvam-se filhos
curam-se doenças
agradecem-se as crenças
de não saber, para lá das
incertezas
se os caminhos dão em trilhos
ou este nada que inventa tudo
não passa de um simples sacrifício
de dar dor ao corpo
dar voz ao vício
persistir no princípio
ao morto com voz de mudo
?
não perguntes
que perguntar não chega
nem ao espírito nem ao corpo
e chegar, chegar sossega
sossega e diminui
não rastejes que não flui
mais pequeno cabe mais
dentro do que é para caber
chegar sossega o que de mim
não sabe que chegou ao fim
enobrece o que de mim
não teme o chegar do fim
nuno miranda
Gostei!
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