terça-feira, 6 de junho de 2017

pena

Vale a pena ter pena do homem que quis acabar com os pulsos cortados. Vem do vale a pena que se sente pelo homem, tal como vem da pena o que homem acha que não vale. Da lâmina com cara de peixe-cristal, veio aquela dor fininha ordinária que se sente quando se está a perder o fio da meada. Foi quase-quase, que o sangue lhe escorria pela vergonha abaixo, ensopando os pés de um barro encarniçado que deixam sempre pegadas indeléveis, nesse trilho confuso que parecia não ter saída. Ainda assim o escorrer do sangue fez poça, possa que parece que doeu mais depois, de não ter doído tanto antes. 

Fez poça, mas não matou, o homem que queria matar o que dele restou. Lambeu do chão o sangue à pressa, com medo que vissem que a morte se tinha contentado apenas com o desgosto honesto de não querer matar aquele homem.  

Sem comentários:

Enviar um comentário