segunda-feira, 24 de março de 2014

Sabes quem é que morreu?



Na última sexta-feira, morreu o último homem sem ídolos. Um homem cauteloso, que sabia receber novidades e sabia que os ídolos eram deuses. Eram deuses ou simplesmente homens desconhecidos, mas que ele gostava de idolatrar. Lembrava-se perfeitamente onde estava, quando soube da morte de Kurt Cobain. Lembrava-se perfeitamente onde estava, quando soube da morte de Ayrton Senna. Antigamente dava-se mais valor à morte. Também ela aparecia de surpresa e demorava a correr mundo, a notícia que a morte acabara de matar.

Onde estava quando morreu João Paulo II, ou quando morreu Lou Reed? Disso já não se lembrava, tal como não se lembrava das mamas da Celina, a mulher com quem perdeu a virgindade. O homem sem ídolos, deixou de venerar, os homens deixaram de ser ídolos e a morte, essa prostituta hedonista, deixou de dar aquele nevoeiro inebriante ao desejo dos homens.

Ele morreu, como morrem os cães. Foi enterrado como os tesouros e nunca foi idolatrado, como também não são os homens de hoje. 


E.M.Valmont

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