Enquanto
a mulher fazia os tratamentos de quimioterapia, ele acomodava o corpo e a
consciência, num banco de madeira sujo e duro, que nestes prognósticos sórdidos
de morte, sabe mal à mente que o corpo esteja bem instalado. Vem a culpa de
estar sentado, de não ser ele a estar agoniado, de não ser ele a estar a prazo,
de não conseguir livrar a mulher do afrouxar do compasso. Os bolsos das calças
vêm de casa atulhados de migalhas de pão, chamam os pombos, aliviam os tombos e
as quedas da solidão. Sai barato este aluguer de companhia que o pão não
precisa de ser do dia. Enquanto o pão dura a companhia perdura, o esvoaçar das
penas faz dele um homem de dores mais pequenas. Há um pombo que fica sempre
para depois da sofreguidão, como que a devolver a migalha de sossego à solidão.
Assim que a mulher chega, sempre debilitada, o último pombo de companhia
afasta-se, deixando o reconforto de um regaço fazer de casa, que afinal a
solidão de um homem sofrido, pode caber debaixo de uma asa.
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